Por Dra Luciane Nardi Comunello, médica dermatologista CRM-RS 25771 RQE 16727
A pele não só é o maior órgão do nosso corpo, como exerce uma série de funções muito importantes! A principal delas é servir como barreira em relação ao meio ambiente – tanto para controle da homeostase e temperatura corporal, quanto para a prevenção de penetração de agentes externos, como substâncias químicas, vírus e bactérias.
Essa barreira cutânea tem sido cada vez mais estudada, e é formada principalmente pela camada córnea, a parte mais externa da epiderme (camada superior da pele), onde estão os queratinócitos. São células que produzem a queratina (uma proteína resistente que forma um “escudo” flexivel), e são entremeadas por um manto hidrolipídico (que funciona como um “cimento”), aumentando a resistência dessa barreira. Mas, além da proteção física, a pele também conta com as células de Langerhans na sua superfície, que pertencem ao nosso sistema imunológico, e defendem o corpo, reconhecendo substâncias estranhas e agentes infecciosos.
A barreira cutânea, porém, apesar de ser extremamente eficaz e nos proteger de muitos agentes agressivos, não é 100% impermeável. Microorganismos e substâncias podem penetrar pela camada mais superior e atingir as mais profundas, como derme e hipoderme (onde ficam vasos sangüíneos e linfáticos, bem como outras células do sistema imunológico, responsáveis também pela defesa do corpo).
Essa permeabilidade seletiva é impulsionada por um gradiente de concentração, e o modelo clássico de permeação descreve três vias de absorção: intracelular, intercelular e folicular. A investigação dessas propriedades de permeação da pele, para certos compostos químicos, é essencial para avaliação do risco de exposição ocupacional e desenvolvimento da indústria cosmética e farmacêutica. Esse entendimento desempenha um papel muito importante no desenvolvimento dos produtos de uso tópico, pois é fundamental para garantir a segurança e a eficácia da entrega de substâncias ativas através da pele – para obter o efeito desejado, minimizando a chance de efeitos adversos sistêmicos e de reações irritativas e alérgicas cutâneas (que têm aumentado, com o surgimento cada vez maior de novos produtos, na área da saúde da pele e estética).
- Norlen, L. et al. The Skin’s Barrier: A Cryo-EM Based Overview of its Architecture and Stepwise Formation. Journal of Investigative Dermatology, 2022 (142): 285-292.
- Stepanov, D. Huskin DB, a database of skin permeation of xenobiotics. Nature 2022 (7):426
- Skin Care and Repair – Harvard Health Publishing, Harvard Medical School, 2020.