Dermatite de Contato

Por Dra Luciane Nardi Comunello, médica dermatologista CRM-RS 25771 RQE 16727

     Como o nome indica, a dermatite de contato — um tipo de erupção cutânea, ocorre após a pele de uma pessoa entrar em contato com uma substância ofensiva. Essa dermatite pode ser causada por uma reação alérgica ou por simples irritação de produtos mais agressivos, como detergentes e sabões muito fortes, por exemplo. As alergias podem ser desencadeadas por inúmeros produtos, e mais de 5.000 alérgenos de contato já foram identificados, no Brasil e no mundo. Essas substâncias vão mudando de tempos em tempos, de acordo com os hábitos da população.
     Alguns alérgenos causam reação mais imediata, dois a três dias após o primeiro contato, mas a dermatite alérgica também pode se desenvolver subitamente, mesmo depois de uma substância ser usada por mais tempo antes. Por exemplo, esmalte de unha, níquel (presente em bijuterias e joias), e certos medicamentos — como antibióticos tópicos e anestésicos, podem causar uma reação repentina (mesmo já tendo sido usados previamente).
     A prevalência da dermatite de contato é de 20% na população em geral, e o diagnóstico pode ser clínico (se a substância causadora for de fácil identificação), ou através dos testes de contato específicos. Se não é possível determinar a causa da alergia, estes testes feitos por um dermatologista ou alergista podem ajudar a revelar
o agente causador.
     Nem sempre é fácil, mas conhecer a causa e evitar o gatilho é o passo mais importante no manejo dessa dermatite. Com a exclusão da substância causadora, provavelmente não haverá mais necessidade de outros tratamentos. É importante ter em mente que a rota de exposição nem sempre é óbvia; por exemplo, os óleos vegetais de alguma planta, responsáveis por uma erupção cutânea, podem ir primeiro para o pêlo de um animal de estimação ou para o tecido de roupas de jardinagem, e depois serem transferidos para a superfície da pele. Por isso, é fundamental uma boa conversa com o paciente, na busca por identificar qualquer possível causa.
     Algumas substâncias que mais frequentemente causam dermatite de contato são: 1) Alérgica – cosméticos com ingredientes botânicos (que contêm óleos de melaleuca, lavanda e hortelã, por exemplo), corticóides tópicos, fragrâncias, tinturas de cabelo, lanolina, níquel, borracha, loção de barbear, filtro solar e outros cosméticos, anestésicos tópicos e antibióticos locais (como Neomicina e Bacitracina); 2) Irritativa – ácidos e álcalis, detergentes, químicos ambientais (como sprays repelentes), óxido de etileno, sabões e solventes.
     Com o expressivo aumento da indústria de produtos para uso dermatológico, devemos estar atentos, pois com exceção de corantes e de certos ingredientes proibidos, um fabricante de cosméticos pode usar essencialmente qualquer matéria-prima em um produto e comercializá-lo com aprovação simplificada das agências de saúde (como ANVISA). Essa lacuna na isenção de regulamentação governamental mais rígida, como acontece para os medicamentos, por exemplo, é um motivo de preocupação devido ao enorme crescimento da produção de "cosmecêuticos" - produtos químicos em cosméticos que têm efeitos fisiológicos, como aumentar o colágeno ou inibir danos causados pelo sol, para prevenção do envelhecimento.
     Portanto, é sempre importante conhecer os ingredientes de cremes e loções, especialmente se forem indicados para uma pele mais sensível (que pode ter uma permeabilidade aumentada). Embora a irritação causada por hidratantes seja incomum, mesmo alguns desses produtos contêm substâncias que podem causar problemas. A Academia Americana de Dermatologia aconselha pessoas com pele sensível a evitar principalmente os seguintes ingredientes: fragrâncias e conservantes (pelo alto poder irritativo e alergênico). Se possível, usar produtos sem eles ou com conservantes menos irritantes, como os parabenos (metilparabeno e butilparabeno). Estes conservantes são usados há mais de 80 anos e parecem ser seguros e bem tolerados, mas podem se ligar aos receptores de estrogênio humano (embora muito fracamente), e pesquisas sugerindo possíveis associações com a diminuição da qualidade do esperma e câncer de mama geraram preocupação sobre estas substâncias químicas. Muitos fabricantes os removeram dos produtos, embora outros estudos não tenham confirmado estas descobertas - estudos adicionais são necessários, mas as evidências atuais não apoiam a necessidade de restringir a exposição. Com essa mudança no mercado, nos últimos anos as tiazolinonas foram mais usadas, em substituição aos parabenos – o que gerou novos agentes alergênicos (pois se mostraram mais sensibilizantes).
     Portanto, é necessária a vigilância constante em relação a todos os novos produtos de uso tópico que vão surgindo, e o acompanhamento de novos casos de alergias que podem ocorrer, para os ajustes necessários e a proteção da pele do nosso paciente.

  • Noe, M.H. ed. Skin Care and Repair – Harvard Health Publishing, Harvard Medical School, 2020.